S. Vartan e seus 1.036 soldados, mártiresAntonio Francisco Lelo
3ª Quinta-feira de Preparação para a Quaresma “É com esse nome que são conhecidos, no século V, no ano de 451, os mártires que tombaram na grande batalha épica de Avarair, lutando contra o poderoso exército persa, em defesa da cristandade e da Igreja Armênia. O rei Hazguerd, dos persas, queria reunir numa só religião em uma só língua, todas as nações que eram dominadas por seu império. Através de um edito real, ordenou que todos aceitassem o mazdeísmo. Havia apenas 150 anos, desde 301, que a Armênia declarara o cristianismo como religião oficial de estado, porém, como se encontrava sob dominação da autoridade persa era obrigada a negar o cristianismo. Existiam militares, senhores feudais (nakharar), soldados e, especialmente, a ampla maioria do povo que era fiel, e preferia morrer a negar a religião cristã. Foi realizada uma grande Assembleia Nacional, na qual participaram o Catholicós dos Armênios, Hovsep Hoghotsmetsi, o comandante Vartan Mamigonian, o governador Vassag Siuni, o valente padre Ghevont (Yerets), os senhores feudais, príncipes, militares e a nobreza, para formular uma resposta, ao “rei-dos-reis dos persas. Após prolongadas consultas, enviaram à Pérsia uma resposta, dizendo: ‘Estamos prontos a cumprir todas as ordens do rei, como súditos obedientes, mas não podemos renegar a Cristo e o verdadeiro Deus, que é o Senhor dos Céus e da Terra e de todas as coisas, por Quem, se necessário for, estamos dispostos até a morrer. É preferível morrer e aceitar a coroa da glória eterna do Rei Imortal, a merecer honrarias efêmeras do rei mortal deste mundo. Nós não podemos renegar nossos pais, pois nós aceitamos como nosso pai, o Santo Evangelho, e nossa mãe, a Igreja Apostólica Armênia’. O rei dos persas, irado por esta ousada resposta, decidiu declarar guerra. O exército dos armênios, sob o comando de Vartan Mamigonian, preparou-se para a batalha. Na véspera da guerra, à noite, durante a celebração da Santa Missa, todos os soldados comungaram o Corpo e Sangue de Cristo. Durante a celebração, o Catholicós Hovsep, o padre Ghevont (Yerets) e depois Vartan Mamigonian, inspiraram todos os combatentes com seus discursos fervorosos, preparando-os a defender, com suas vidas, a sua fé e a Igreja Mãe. A batalha ocorreu no campo Chavarchan, de Avarair, às margens do rio D’ghmud (Delmut), no dia 26 de maio de 451, com número desproporcional de soldados e armamentos entre as partes. O temível exército persa, atacou com seus trezentos mil soldados o exército dos armênios, que mal contava com sessenta mil. Nessa terrível luta, os persas tiveram mais perdas, mas nesta batalha e sucessivas lutas, os armênios tiveram 1036 vítimas, as quais, com seu martírio consciente e voluntário, dedicaram suas vidas “em pról da religião e da pátria” (Vassen Groni yev vassen Hayreniats). Apesar de os persas terem vencido no campo de batalha, a vitória moral, no entanto, foi dos armênios, uma vez que o rei Hazguerd não alcançou seus objetivos, e se convenceu de que seria impossível afastar os armênios da fé cristã. De fato, o resultado da Batalha de Avarair foi a eternização da existência da nação e da Igreja Armênia. Esta é a convicção dos armênios desde a época de Vartanants. A vida dos armênios foi preenchida com este espírito através dos séculos, durante os profundos sofrimentos em sua história. A comemoração do Dia de Vartanants atinge profundamente o coração de cada armênio, quando são glorificados todos aqueles heróis que, através de sua fé e martírio, fortaleceram no povo armênio o alto caráter de saber sacrificar a sua vida pela fé. O Catholicós São Nersês Shânorhali (o Agraciado), compôs diversos hinos (charagans) dedicados a eles: “Norahrach” (o Novo Milagre) e “Ariatsialk” (os Valentes), que são cantados por ocasião desta comemoração. O dia de Vartanants é celebrado na quinta-feira que precede o início da Quaresma; caso tal dia coincida com 14 de fevereiro, que é a Festa de Diarnentarach (Festa da Purificação), essa comemoração se realiza na terça-feira da mesma semana”. “Na batalha universal e no grande combate, fazíeis frente ao ataque dos iníquos; pusestes e fostes obstáculo à loucura desses homens. Tornastes-vos vencedor, ó santo bem-aventurado, pois no combate corporal não resistiam àqueles que adquiriram a força divina. Ó Cristo, pela intercessão deles, guardai-nos e tende piedade de nós” (antífona de entrada da missa).