Festa da Epifania

Antonio Francisco Lelo

A solene festa da Epifania, a primeira das cinco grandes festas do ano litúrgico armênio, comemora a manifestação do Senhor na fragilidade da carne para revelar o mistério da salvação à toda humanidade.

No dia 6 de janeiro (no Brasil no domingo mais próximo), celebramos as quatro manifestações da divindade do Senhor do Senhor antes de iniciar sua vida pública;  em seu nascimento se dá conhecer ao povo judeu representado pelos pastores; na visita dos reis magos recebe por meio deles a homenagem dos povos pagãos, em seu batismo o Pai o reconhece publicamente como Filho portador do Espírito e em Caná da Galileia realiza o milagre da transformação da água em vinho. A vinda de Jesus entre nós, ou seja, o mistério da sua encarnação já é o primeiro passo para a realização de sua Páscoa.

No batismo de Jesus (Mt 3,13-17), o Pai apresenta o seu Filho amado que cumprirá a missão do servo sofredor previsto pelo profeta Isaías (42,1-4), capaz de atrair sobre si todas as dores da humanidade, pois desabará sobre ele a força destruidora do pecado do mundo. O Filho de Deus se despoja de sua igualdade com o Pai e, solidariamente, assume a natureza humana, sendo igual a nós em tudo, menos no pecado.

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Em Roma e, consequentemente, em todo o rito romano se celebra este mistério destacando mais o nascimento de Jesus. A solenidade do Natal, no dia 25 de dezembro, está ligada ao plenilúnio de inverno do hemisfério norte, dia em que o sol vence as trevas, ou seja, chega-se à noite mais longa do ano e daí em diante os dias voltam a crescer novamente. Em Roma, no ano 274 o imperador Aureliano instituiu este dia como o do “Nascimento do Sol inconquistável”. Não muitos anos depois, o Papa Júlio I, para santificar essa festa pagã, instituiu o Natal, pois Jesus é a luz verdadeira que vindo ao mundo a todos ilumina.

O Oriente destaca mais o conjunto das manifestações do Senhor antes de começar seu ministério público, do que propriamente o dia de Natal. O importante é que as duas solenidades se completam, tanto que ambas comemorações se intercambiaram nos dois lados.

O nascimento de Jesus Cristo, acontecimento central da História da nossa Salvação, marca a iniciativa de Deus de oferecer em nosso tempo e a todos os seres humanos a salvação para que tenhamos vida em abundância. Jesus assume a nossa humanidade, para que nossa humanidade seja divinizada.

Na celebração da festa da Epifania, há o costume de uma pessoa vestir-se como João Batista, de benzer a água e de levá-la para abençoar a família e a casa.

Tempo da Epifania

           Essa comemoração se prolonga até por quarenta dias (seis semanas), conforme o calendário anual. Os evangelhos proclamados nesses domingos traçam um caminho de interiorização de quem é a pessoa de Jesus, enviado do Pai com um plano de salvação pré-estabelecido. Também evidenciam a necessidade da adesão de nossa fé para acolher a salvação que Jesus nos oferece.

           Inicialmente, João Batista o reconhece como o cordeiro de Deus, o Servo de Javé sobre o quem recai o peso do mal deste mundo. “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. Ele é o Filho de Deus!”. Assim, como no tempo de Moisés, com o sangue do cordeiro imolado na páscoa foram marcadas as portas dos hebreus para livrá-los do anjo irado que ceifou a vida dos primogênitos egípcios; Jesus é o cordeiro que nos salva da morte com o seu sacrifício. Desde o seu batismo, já se desenha a sua missão (2º Domingo da Epifania, Jo 1,29-34).

Definitivamente, Ele é a manifestação do amor do Pai para nos salvar, porém, isto só se tornará possível se crermos nele. “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Estabelece-se um julgamento: a luz da fé somada às boas obras e à prática da verdade nos colocam face a face com o Filho do Pai. Quem preferir as trevas e a mentira “já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus” (3º Domingo da Epifania, Jo 3,13-21).

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            Jesus continua apresentando sua missão. Para os habitantes da Samaria, dialoga inicialmente com uma mulher à beira do poço. Ali, Jesus utiliza o nome de Deus para se definir a si mesmo: “Sou eu, que estou falando contigo” (Jo 4,26), revelando sua identidade à samaritana. Ele é o Messias, o Cristo, que veio fazer a vontade do Pai que ama o mundo e entrega o seu Filho para salvá-lo. Os habitantes da Samaria atraídos pela mulher, após Jesus permanecer dois dias com eles, também confessaram: “Nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (4º Domingo da Epifania, Jo 4,24-42).

          Jesus, portanto, revela sua identidade e abre o caminho da salvação para todos mas, com uma condição: que o aceitem como o enviado do Pai. A sua presença provoca um juízo, de quem aceita viver como Ele ou se prefere viver segundo as trevas e na mentira. Ninguém pode ser indiferente a Ele. “Aqueles que fizeram o bem ressuscitarão para a vida; e aqueles que praticaram o mal, para a condenação. O meu julgamento é justo, porque procuro fazer não a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (5º Domingo da Epifania, Jo 5,19-30).

É preciso fazer tudo o que Ele nos diz para alcançarmos a sua Salvação, como nos assegura a sua Mãe em Caná da Galileia. Ali, Jesus transformou a água em vinho, pois Ele, como o Filho de Deus, tem o poder de mudar a nossa tristeza e desolação na alegria do vinho novo do Reino (6º Domingo da Epifania, Jo 2,1-11).

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As cinco telas, instaladas no teto da Catedral Armênia São Gregório Iluminador em São Paulo, reproduzem a encarnação de Jesus e sua manifestação como Filho de Deus aos judeus e pagãos antes de iniciar sua vida pública.