Antônio Francisco Lelo
Na Igreja Armênia a Quaresma é preparada durante três semanas, chamadas “Aratchavoráts”, que significa, literalmente, “Tempo que precede” (“arátch” + “avúr”. “Aratch”=”antes” + “avúr”, da língua armênia clássica=a “aissór”=”dia”, no armênio moderno).
No calendário litúrgico armênio, o caminho quaresmal de preparação para a Páscoa cristã começa no Domingo que antecede a Imposição das Cinzas, que na Igreja Armênia ocorre na segunda-feira e na Igreja Latina, na quarta-feira. Encerra-se antes da Missa da Quinta-feira Santa, com a celebração da Missa da Ceia do Senhor.
Quaresma designa o tempo de quarenta dias que antecede a celebração central da Ressurreição de Jesus Cristo, comemorada no Domingo de Páscoa. Esta prática data do século IV. Cerca de duzentos anos após o nascimento de Cristo, os cristãos começaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Por volta do ano 350 d.C., a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta dias. Assim surgiu a Quaresma.
Na Igreja Armênia todas as cinco grandes festas anuais são preparadas com cinco dias de jejum, de segunda à sexta-feira. A maior dessas festas, a Páscoa da Ressurreição, que engloba as 7 semanas da Páscoa e as 7 semanas de Pentecostes, a preparação é feita durante quarenta dias, Quaresma.
Na cultura bíblica, cristã, um número que possui algo especial é o 40. A Igreja relaciona com os quarenta anos de peregrinação do povo hebreu rumo à terra prometida; os quarenta dias de jejum total de Moisés no Monte Sinai para receber a Lei da Aliança (Ex 24,12-18.34); os quarenta dias em que Elias, a caminho do Monte Horeb, foge da perseguição (1Rs 19,8); os quarenta dias de jejum e de oração do profeta Jonas antes de converter a cidade de Nínive; e o retiro de Jesus no deserto, onde passa quarenta dias e noites em jejum, se preparando para sua vida pública (Mt 4,1-2). Quaresma é tempo de transição! De passagem do deserto à terra prometida.
O sentido deste tempo litúrgico está concentrado na penitência como mortificação pessoal e alimento da vida espiritual em três dimensões: o jejum, a oração e a esmola (cf. Mt 6,1-6.16-18). Respectivamente, são três movimentos de crescimento e purificação em relação a si mesmo, a Deus e ao próximo. O jejum é o querer abster-se de alimentos para a descoberta do alimento espiritual da Palavra de Deus e do Pão da Vida; só é possível se estiver vinculado à oração. A esmola requer a atitude de abertura para acolher a necessidade do outro, tendo como referência a entrega total e generosa do Senhor na cruz.
Assim, recorda as respostas de Jesus a cada tentação que sofreu no deserto. O jejum mostra que não só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus. A esmola e a oração vivificam o agir, sob a graça de Deus: o cristão adorará somente a Deus e a nenhum outro prestará culto.
O jejum e a abstinência de carne devem ser feitos na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa pelas pessoas entre 18 e 60 anos.
São seis semanas de jejum e de penitência: dias de “pão e água”, jejum de verdade! Os armênios idosos ainda observam essa norma no Oriente. Como na Igreja Armênia não é permitido jejuar nos dias sábado e Domingo, por estarem ligados à véspera e ao dia da Ressurreição de Jesus sendo, portanto, sempre dias de festa, os dias de “pão e água” se reduzem, na realidade, a 26 dias.
Importa que os cristãos procurem praticar a penitência, refazer sua caminhada de fé e se confessar. A Igreja propõe o jejum principalmente como forma de sacrifício, mas também como uma maneira de educar-se, de ir percebendo que, o que o ser humano mais necessita é de Deus. Desta forma se justificam as demais abstinências; elas têm a mesma função.
Durante a quaresma, muitos se abstêm de comer carne ou deixam de beber álcool ou comer algo de que gostam muito. Outros elegem dias inteiros para fazer o jejum total ou se exercitar na prática da caridade, como visitar a um doente, socorrer a um necessitado, confortar uma pessoa aflita, etc…, ou seja, observando o mandamento do amor. Cada um escolhe uma maneira de demonstrar sua espiritualidade penitencial.
Essencialmente é um tempo de retiro espiritual, quando os cristãos se recolhem em oração e em penitência para morrer para o pecado e ressuscitar com Cristo para uma vida nova. Tempo de renovar a promessa de viver com fidelidade o nosso batismo, com o empenho à santidade, vocação comum a todos os filhos de Deus, membros da Igreja, sem exceções.
A Igreja do Brasil desenvolve neste Tempo de Quaresma a Campanha da Fraternidade. Trata-se de um grande movimento de evangelização e de conscientização daqueles pecados mais gritantes da sociedade brasileira que nos impedem de celebrar a Páscoa do Senhor mais plenamente.
No tempo quaresmal o cristão é convidado a se aproximar de Deus visando o crescimento espiritual; a fazer um discernimento da sua vida à luz da mensagem expressa nos Evangelhos. Esse convite à interiorização é o significado do fechamento da cortina que separa a parte da igreja onde se localiza o Altar. Recorda também o longo período que a humanidade ficou privada da salvação, aguardando o Salvador, o Messias. A cortina será aberta somente um pouco para podermos participar da Santa Missa, mas, no início e logo depois da Missa, ela permanecerá fechada.
No início e no fim da santa Missa os cantos são suspensos e não se realiza a procissão do santo Evangelho. Nos quarenta dias da Quaresma não se realiza o sacramento do Matrimônio, porque não há espaço para pompa e solenidade; a cortina do altar está fechada! A Santa Missa começa e termina com sobriedade, isto é, sem cantos.
1) Inicia-se sem cantos e atrás da cortina. Dois acólitos abrem as cortinas para a passagem dos Ministros. Durante a missa, a cortina permanece semi fechada, e mantém os movimentos de abrir e fechar como sempre.
2) O povo não é incensado.
3) O Evangelho não é levado em procissão e durante o credo não é erguido.
5) Não se usam os flabelos (këtchots).
6) As últimas partes, normalmente cantadas, são dialogadas com o Diácono.
7) No final da Missa, a cortina é fechada.