Jesus, seguindo o costume de seus irmãos judeus, celebrava todos os anos a Páscoa em memória dos acontecimentos do Êxodo. Às vésperas de ser entregue e condenado à morte, Jesus celebrou a Páscoa com um sentido próprio a partir de sua morte na cruz. Sua morte é Páscoa: mostra a intervenção do Pai que salva a humanidade pelo amor de seu Filho, amor este levado às últimas consequências. “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Antecipadamente, ele celebrou em forma de ceia pascal o que iria acontecer no calvário no dia seguinte.
Ao celebrar pela última vez a Páscoa judaica com seus apóstolos, Jesus institui o memorial de sua Páscoa (Paixão, Morte e Ressurreição), a Eucaristia como o sacramento por excelência que expressa o significado de sua entrega como cumprimento do projeto do Reino de Deus. Na última ceia há uma antecipação celebrativa, sacramental, do sacrifício de expiação do pecado que acontece na cruz. Essa é a celebração sacramental nova, memorial do novo êxodo pascal de Cristo.
Sua entrega consciente àqueles que podiam matá-lo significou o enfrentamento do mal deste mundo pelo Filho de Deus. Jesus combate o mal pela raiz e ensina-nos que o amor deve ser levado às últimas consequências. “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
A missa desta noite proclama a instituição da ceia do Senhor segundo o evangelho de Mateus 26,17-30.
O evangelho segundo João substitui o relato da ceia pela cena do lava-pés. Este gesto está muito presente na sociedade daquele tempo. O estranho é ver Jesus lavando os pés. Dessa forma, o gesto se reveste do valor da humildade, do serviço, do despojamento. Porque o comum era que um serviçal o realizasse.
Jesus, o Filho de Deus encarnado, entende sua vida e sua missão como serviço de amor à humanidade. Ele se doa inteiramente. “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós” (Jo 13,14-15). Assim, o Reino de Cristo só pode ser recebido e instaurado com o serviço de amor. E a entrega da sua vida na cruz será o cume desta entrega, da sua vida colocada a serviço da humanidade. O gesto de lavar os pés, o sacrifício da cruz e o sacramento memorial deste sacrifício, a Eucaristia, têm em comum o serviço humilde de amor e de entrega pela humanidade.
Na liturgia armênia, o lava-pés é celebrado fora da missa do dia, numa celebração cantada das horas. Após o Salmo 50, seguem: o hino, a oração, 1Jo 4,7-21, Jo 13,1-11, invocações, bênção da água, lava-pés acompanhado do hino, conclusão do evangelho de Jo 13,12-15, oração final. Em nossa paróquia, por motivos pastorais, celebramos o lava-pés imediatamente antes da santa missa.
É dia de jejum e abstinência de carne. Os quatro evangelistas coincidem em conferir sentido pascal à morte de Jesus na cruz. Para os evangelistas Mateus, Lucas e Marcos, Jesus celebrou a ceia pascal e depois foi crucificado. Porém, o evangelista João identifica a morte de Jesus na preparação desta ceia. Faz coincidir sua morte com a véspera desta ceia quando eram sacrificados os cordeiros para serem comidos na ceia. Por isso, esta celebração acontece às três horas da tarde. Tal como o cordeiro sacrificado, Jesus é o novo cordeiro, cujo sangue derramado nos redime e tira o pecado do mundo.
A cruz não surgiu repentinamente na vida de Jesus de Nazaré. Ela foi consequência de uma opção radical pelo Pai e pelo Reino. Na fidelidade ao Pai, Jesus é fiel também aos pobres e aos pecadores, os quais o Pai ama e quer resgatar. Jesus não hesitou em defender os oprimidos. Condenou o poder e a riqueza construídos à custa da opressão, assim como as desigualdades sociais, as discriminações, as leis injustas que favoreciam apenas uma pequena parcela da sociedade. Não aceitou a hipocrisia e o uso da religião em proveito próprio. Anunciou o Reino de justiça, amor e paz, pois todos são iguais perante Deus e com os mesmos deveres e direitos. Essa maneira de agir acabou levando-o a ser condenado.Em nossa paróquia, por motivos pastorais, esta celebração foi adaptada com a leitura da Paixão, a celebração da Penitência e a adoração da santa Cruz.
A Ressurreição é um acontecimento que está no centro da experiência religiosa que Jesus Cristo fez de Deus. Ela, o ápice do caminho feito por Jesus Cristo, é o mistério por excelência que serve como critério para entender o sentido dos demais mistérios da fé cristã: sua Encarnação (o divino humanizado e o humano divinizado), sua Vida (seus gestos e palavras), sua Paixão (tudo aquilo que diz respeito a seu sofrimento) e sua Crucifixão (morte violenta na cruz). Com a Ressurreição, esses mistérios se esclarecem, e os seguidores de Jesus Cristo descobrem quem ele é, qual é sua missão e qual é seu futuro.
É celebrada imediatamente antes da missa, com os seguintes elementos:
Pai-nosso; Sl 112 e 1º hino; Sl 117; Gn 2-3, criação do homem e da mulher e pecado de Adão; Gn 22,1-18, sacrifício de Abraão; Ex 12,1-24, instituição da Páscoa; Jn 3, conversão de Nínive; Ex 15,1-18, cântico de Moisés e Míriam e 2º hino (acendem-se as luzes); Is 60,1-11, glória da nova Jerusalém; Ez 37,1-14, as ossadas revivem; Dn 3,1-74, os três jovens na fornalha.
A missa da vigília proclama 1Cor 15,1-11 – querigma paulino e Mt 28,1-20 – encontro das duas Marias com o Ressuscitado.
A missa do Domingo contempla a bênção do pão (Más) e da casa paroquial; proclama-se At 1,15-26 – eleição de Matias e Mc 16,2-8 – as mulheres e o túmulo vazio.
A Ressurreição ilumina e dá sentido ao presente, pois a luz do Ressuscitado dissipa as dúvidas e incertezas da morte e a sensação de que tudo está perdido, ou de que a Crucifixão foi o fim de tudo. Mas a Ressurreição projeta luz também sobre o futuro, pois o Ressuscitado inaugura um tempo novo de esperança, em um mundo mais de acordo com os desígnios de Deus Pai.